segunda-feira, 26 de setembro de 2016
terça-feira, 20 de setembro de 2016
CRIANÇA SE ESTRESSA? SIM!
CRIANÇA SE ESTRESSA? SIM!
Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais
Este é um assunto que tem me preocupado muito: bebês, crianças e
adolescentes apresentando momentos de fúria e nervosíssimo. Você já havia parado
para pensar que um bebê também pode se estressar?
No nosso mundo adulto, temos a ideia ou relacionamos estresse a
dificuldades financeiras, a um curso que iniciamos, a obrigações familiares e
acreditamos, que um bebê ou uma criança, por só dormir, brincar e ir ao
berçário ou escola, não tem o menor motivo para vivenciar um estresse.
Então, o que pode estressar este ser que acabou de chegar? Crianças
estão como uma antena ou radar, captando tudo ao seu redor. E ao sentir algo
acontecendo no ar ou receber os cuidados necessários, como uma troca de fralda
ou uma alimentação de uma maneira agitada por parte do cuidador, ela recebe
toda essa energia desarmoniosa e fica incomodada. Ela devolve o que recebe.
Estamos recebendo crianças com um grau elevado de ansiedade. Não é
preciso ser nenhum especialista para perceber quando uma criança está fora do
grau de ansiedade além do nível da normalidade. Crianças que não sabem aguardar
sua vez, que não conseguem esperar os pais terminarem uma conversa para responder-lhes,
que precisam ser satisfeitas imediatamente, apresentam sinais interessantes
para investigarmos. Outro fator de observação do estresse e ansiedade é quando
a criança começa a queixar-se frequentemente de dores de cabeça, barriguinha
que aperta, enjoos estomacais, coraçãozinho disparado, dificuldade de
concentrar-se em atividades simples, que antes eram corriqueiras. Um terceiro
aspecto muito importante é uma mudança de comportamento apresentando
agressividade. De repente tudo irrita e gera uma ação de devolução
agressiva.
Precisamos analisar com cuidado a criança que apresenta um comportamento
repentino, que beira a um ataque de nervos. Para exemplificar, narrarei um
exemplo recente. Uma criança se sentiu contrariada e rejeitada pelas colegas.
Não conseguiu digerir tal frustração. Sua reação foi, imediatamente, extravasar
a sua raiva, descontando fisicamente na colega que ela atribuiu ser a pivô da
rejeição. Com uma atitude inesperada e impulsiva, essa criança gritava e batia
em sua colega de forma incontrolável. Ao tentar ser contida por um adulto, ela
agrediu a adulta também. Nada freava sua ira. Afastada da cena, na tentativa de
acalmá-la, ela ainda se sentia muito nervosa e com vontade de agredir. Palavras
e gestos eram facilmente gerados por ela. Um vocabulário adulto e muito elaborado.
Mostrava-se uma criança culta e articulada. E, para o espanto de todos, a
protagonista desta cena tinha apenas 8 anos de idade.
Por que nossas crianças estão tão impulsivas, ansiosas, agressivas e
desequilibradas emocionalmente? Precisamos, urgentemente, rever nossos hábitos,
repensar nossas atitudes. Se somos seus espelhos, precisamos rever o que temos
refletido. Está na hora de buscar mais ações e menos julgamentos e
“falatórios”.
E quais são as dicas para evitar essa ansiedade e os ataques de fúrias
dos nossos pequenos? Vamos reviver a
sabedoria dos nossos avós.
1-
Proporcione mais momentos ao ar livre. Saia para brincar com seu filho
em parques e quintais. Não é levá-los e deixá-los lá e você, de longe, no
celular. É brincar com ele.
2-
Conte mais histórias. Deite na cama com ele, no sofá, no tapete, no
gramado e conte histórias com as quais ele possa “voar” no imaginário.
3-
Proporcione momentos em que possam se sujar com tinta, lama, grama.
Deixe-o sentir texturas e temperaturas em seu corpinho. Tudo isso, uma boa água
limpará.
4-
Organize lanches com ele, ou seja, ele o ajudando a preparar. Desperte o
paladar dele com sabores saudáveis. Brinque com o momento de produzir o
alimento e depois, com o prazer de degustar.
5-
Cante com o seu filho. Cante no carro, no banho, no parque. Permita que
extravase através da canção. Deixe soltar a voz. Solte a voz com ele.
6-
Ria muito com seu filho. Ache graça dos desastres e da falta de jeito de
ambos. Rir juntos aproxima e dá leveza.
7-
Converse com seu filho. Conversar é também ouvir. Ouça com atenção o que
ele tem a dizer. Sentir-se escutado é maravilhoso.
8-
Por último, permita-se ser criança com seu filho. Permita a troca de
afeto e amor. Ame seu filho como ele é e o ensine a amá-lo como você é. Menos
críticas e mais ajuda mútua.
Que, com estas ações, possamos proporcionar à família menos ataques de
nervos e mais ataques de saúde familiar.
POR QUE ESTAMOS ENVOLVENDO AS CRIANÇAS NO MUNDO ADULTO?
POR QUE ESTAMOS ENVOLVENDO AS CRIANÇAS NO MUNDO ADULTO?
Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais
Não é raro ser preciso acolher crianças e adolescente em
minha sala com um aspecto bem característico de uma ansiedade ou de uma crise
de medo. Basta uma conversa acolhedora que logo vão contando o que estão
sentindo no campo físico e emocional.
Não estamos atentos a que as crianças estão participando de
uma série de situações que de longe elas não possuem alcance em sua maturidade.
Famílias que sequer possuem cuidado em separar ambientes de crianças e adultos.
Muitas vezes me remeto a lembranças da época de quando os
pais recebiam visitas e os filhos tinham que ir para outro ambiente brincar.
Era uma proteção instintiva ou uma sabedoria por vivência, experiência de vida.
Hoje, agimos como se essa privacidade fosse desnecessária. Crianças escutam as
conversas dos adultos e ainda se sentem no direito de dar palpite ou são
convidadas a opinar.
Toda esta inserção antecipada está produzindo sentimentos e
emoções desfavoráveis aos nossos pequenos. Crianças que escutam detalhes da
separação de um parente próximo, muitas vezes passam uma noite ou parte dela em
claro, pensando na possibilidade dos pais se separarem também. Crianças que
presenciam conversas sobre doenças de um ente querido passam a fantasiar com a
possibilidade de perder um dos pais também.
Lembro-me de que meus pais me colocavam para dormir assim que
era anunciado o início do Fantástico, no domingo. Mesmo no quarto, por muitas
vezes eu ouvia a notícia de um meteoro a caminho. Pronto! Era o suficiente para
temer o fim do mundo, para chorar por pensar que meus pais morreriam e para
morrer de medo do tema musical do programa.
Vejo mesas enormes em restaurantes com até quatro famílias reunidas
e as crianças na mesma mesa, ouvindo sobre negócios, “fofocas” de adultos como
traições e desrespeito, formando conceitos de relacionamentos conjugais,
traições entre sócios, corrupções políticas de pessoas muito próximas, entre
outros assuntos. Nem de longe estas mesmas famílias descuidadas estão
percebendo que as crianças estão absorvendo todo este conteúdo e “digerindo-o”
de uma forma imatura que só pode gerar insegurança na convivência com o outro.
Enquanto participam de tal cenário, as crianças entram em um
círculo de pensamento construtivo, passando pela emoção e pela construção do
comportamento a curto e longo prazo. O assunto fica latejante em sua mente e
ela começa a elaborar aprendizados. Este movimento pode produzir uma ansiedade
ou um medo enorme de se relacionar e até de crescer. Crescer significará ser
inserido neste mundo apresentado nas rodas de conversas dos adultos.
Enquanto em sua solidão de pensamento, ela reelabora tudo o que
ouviu, podendo ativar um conjunto de sensações físicas e emoções geradas pelos
conceitos e crenças construídas. Estas emoções podem levar a uma dimensão tão
incontrolável que ela passa a não conseguir ser mais forte que o medo
produzido. E a sensação aliada à construção de conceitos gera uma resposta
emocional de ansiedade, medo e até pânico.
Crianças pequenas têm apresentado palpitações, sudorese
excessiva nas mãozinhas e pés (extremidades), dificuldade na respiração, perda
de sono no meio da noite ou dificuldade para dormir e choro sem conseguir
explicar o motivo.
Muitas vezes todas estas sensações estão trazendo um
comportamento regressivo aos nossos pequenos: busca de colo constantemente,
pedido para dormir com os pais, queixa de dores e mal-estar na escola,
desistência de aulas esportivas e lúdicas, regressão com os cuidados na higiene
pessoal e até alimentar.
É muito importante um despertar para os adultos sobre como
estamos agindo na frente das nossas crianças. Precisamos leva-las a todos os
eventos sociais? Aquela velha conversa de “onde não cabem meus filhos, não nos
cabe” precisa ser repensada. “Programa de adulto é de adulto”, parece uma frase
óbvia, mas precisa ser repetida muitas vezes. As famílias precisam proporcionar momentos com
as crianças em família e momentos do casal com adultos. Isso é muito sadio para
a relação familiar.
É preciso rever alguns hábitos da tal
modernidade. Vamos pensar nisso?
Mamãe, eu não quero mais ser amigo do José.
Mamãe, eu não quero mais ser amigo do José.
Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais
Quantas vezes nos surpreendemos com as oscilações dos nossos
filhos em suas amizades? De repente o melhor amigo já não é tão interessante,
mas inesperadamente a gente escuta: “Mamãe, posso convidar o José para passar o
final de semana comigo? ” “Ué, mas você não estava triste com o José ainda ontem?
” “Vai explicar”, indigna-se a mãe.
Eu não vou explicar, vou propor um pensar. Todo esse vai e
volta proporciona um amadurecimento na construção social, por isso não podemos
ir até “o José” para intervir a favor do nosso filho. Devemos sim fazer o nosso
pequeno refletir sobre os acontecimentos que o levaram se magoar com o amigo.
Relacionar traz muito crescimento porque proporciona lidar com
prazer e sofrimento ao mesmo tempo. E é assim que nossos filhos irão aprendendo
que estamos inseridos em um mundo que não é totalmente bom nem totalmente ruim.
E esse movimento revela as diferenças entre eu e o outro ou os outros.
Nossas crianças e adolescentes, quando fazem novas amizades,
depositam uma enorme expectativa no mais novo (a) amigo (a), acredita que
corresponderá exatamente aos ideais criados em sua mente. O tempo vai passando
e a expectativa enorme traz grandes frustrações. E por que isso acontece?
Porque buscamos o que desejamos ter no próximo (o imaginário) e não nos permitimos
verdadeiramente conhecer e aceitar o outro como ele é e com o que tem a nos
oferecer e nos acrescentar. Essa gangorra entre o que espero e o que recebo nos
torna reais.
Um outro ponto muito importante é buscar entender o motivo do
desencantamento partindo do que você conhece do seu filho e do que você vê no
amigo eleito. Explico. Muitas vezes desistimos de alguém por ver nesta pessoa o
que chamamos da técnica do espelho. O outro reflete o que eu tenho e é ruim e
não consigo lidar com isso. Esta percepção está, no caso dos nossos pequenos,
no campo do inconsciente. É como se eu dissesse com o afastamento: “Não consigo
lidar comigo mesmo. ” Exemplo: uma criança possessiva que encontra uma amiga a
qual também é possessiva. Ela, sendo privada de fazer novas amigas, depara com
os sentimentos que o autoritarismo proporciona (privação), que é o que ela faz
com as demais amiguinhas. Imediatamente, e inconscientemente afasta a amiga o
que a faz pensar em suas ações parecidas.
Acontece que esse movimento é extremamente saudável para o
caminhar da vida adulta.
Quando um adulto conhece uma pessoa, ele também faz
projeções e exceptivas e, este vivenciar na infância e adolescência permitirá
chegar à vida adulta mais preparado e maduro. Ao apontarmos um dedo para
alguém, três outros dedos apontam, automaticamente, para nós. Se determinadas
“diferenças” do outro me incomodam tanto, talvez o outro não seja tão diferente
de mim, não é mesmo? Daí uma excelente oportunidade de conhecer seu filho.
Dialogue sobre os seus incômodos e frustrações em relação aos amigos e o
conhecerá muito mais do que pensa. O que ele rejeita no outro poderá ser o que
ele nega em seu ser.
Esta reflexão que proponho nos permite repensar até nos
nossos papéis. Adultos também chegam à vida amorosa ou social sem perceber que
muitas vezes rejeitamos o outro por nos perceber em suas atitudes. Lidar com o
que não gostamos refletido no outro não é nada fácil, mas se temos consciência,
poderá se tornar terapêutico. E esse movimento consciente permitirá assumir
nossos pontos de vistas, sermos integrais assumindo quem somos, não
culpabilizar o outro por refletir o que nos incomoda, mas nos voltarmos para
dentro de nós e evoluirmos.
Precisamos ajudar os nossos pequenos a entenderem que não
precisam deixar de ser eles para estar ao lado de quem escolheu como amigo. Desta
forma, o amigo não precisará de ser ele para estar com seu filho. Precisamos
desenvolver o conceito de que estou para você, amigo, assim como você está para
mim e, juntos, estamos para os outros. Agora imagina quão tamanha riqueza será
desenvolvida com este diálogo maduro se agirmos assim, não é mesmo?
Aqui peço uma reflexão diante do que tenho presenciado nos
inúmeros lugares que frequento: família, igreja, escola, clube, condomínio,
etc. Pais que, basta os filhos reclamarem de um amiguinho, já tomam as dores,
rejeitam o amigo e aconselham a arrumar outro: “Filho olha o tanto de crianças
que tem aqui. Você não precisa deste amigo que não quer brincar ou fazer o que
você deseja. ” Será que não está perdendo uma grande chance de preparar melhor
esta criança para vida adulta e tudo o que esta vida envolve? É isso que quero
mesmo para o meu filho, uma criança que descarta tudo que mexe com o que ela
tem de bom ou ruim dentro de si? E cadê o diálogo? Não desperdicei desta forma
uma possibilidade de desenvolver uma relação mais inteira? E para aguçar ainda
mais o seu pensar, quero dizer que uma ação impulsiva e de enxergar só o outro
e não encarar o seu filho tirará uma grande possibilidade de você conhecer a
sua cria. Bom, espero que tenha feito você pensar um pouquinho que neste mundo
atual, onde buscamos culpados e desejos satisfeitos você, na verdade, busque
uma relação mais inteira com a sua criança, permitindo que ela cresça e você
também evolua no seu papel de uma paternidade responsável.
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