quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

O PAPEL DOS AVÓS DENTRO DO CONTEXTO FAMILIAR


Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais

     Diante de tanta mistura de sentimentos entre pais, filhos e netos, resolvi escrever sobre o papel dos avós na vida familiar. Sempre ouço a queixa de mães que relatam que suas mães estão estragando seus filhos. Algumas se mostram assustadas ou enciumadas, dizendo que a mãe é para a sua filha o que não foi para ela. Isso me mobiliza e me instiga a um posicionamento. Vamos pensar juntas: qual a sua rotina diante de suas preocupações de mãe? 
    Hoje você corre atrás do profissional, procura manter-se estudiosa, cuida da casa, dos filhos, do esposo/companheiro. Entre tantas atribuições, a sua principal preocupação é conseguir dar uma boa educação ao seu filho, certo? Exatamente igual à época em que sua mãe exercia o papel de mãe. Hoje, ela é telespectadora da própria história, repetindo através de você. Como ela já venceu a fase dela, já galgou outro patamar, goza de tempo e experiência para aproveitar os netos como gostaria de ter aproveitado os filhos. Diante desse olhar, você consegue ver com mais leveza as ações de seus pais/avós de seus filhos? 
    Hoje, os avós querem brincar, transgredir regras, comer livremente e se divertir por três motivos: possuem tempo, podem fazer isso sem culpa e não são os responsáveis diretos pela educação das crianças. Essas ações devolvem o espírito infantil, enche-os de energia e vitalidade. Não é à toa que temos recordações doces, saudosas e lúdicas dos nossos avós. O cheiro, a textura da pele, a voz ao cantarolar, as expressões faciais ao contarem histórias, tudo isso fica muita registrado em nossa memória. Se nos fez tão bem a ponto de suspirarmos hoje ao recordar, porque impedir os nossos filhos de usufruírem da companhia descompromissada dos nossos pais, seus avós?
     Acontece que hoje as famílias estão olhando os avós como parceiros da criação. Incluem-nos como coparticipantes ou até terceirizam seus filhos aos seus pais. E ainda se veem no direito de cobrar como devem proceder com a sua cria. Será justo isso? Por outro lado, os avós podem ser lúdicos, brincalhões e sapecas com seus netos, mas precisam saber a hora de falar sério também: não desautorizar uma ordem importante dos pais, exigir que respeitem a hierarquia, ou seja, nem 8 nem 80. Nem tanta “sapequice” com os netos, nem tanta responsabilidade na educação.
     Avós possuem amor dobrado. Como não amar o fruto do meu fruto? É mesmo muito amor em toda essa relação. E temos a obrigação de compreender isso. Por outro lado, os avós precisam compreender a necessidade de colocar limites nos netos, afinal, seus filhos cresceram e prosperaram exatamente porque foram educados com regras. Então, avós, pais e netos precisam entender que estão juntos em momentos de diretos e deveres.
     
    Posso até assustar vocês com o que vou dizer, mas nem todos os avós amam seus netos, assim como hoje em dia o amor incondicional dos pais anda abalado. É, isso mesmo! Estamos nos deparando com avós que nem querem ser chamados de vovó ou vovô, porque se sentem tão jovens e com uma fome de achar que a tão falada felicidade está associada a uma vida egocêntrica, que acreditam que “cada um que siga o seu caminho, que eles seguiram os deles”: “Filhos criados, já fiz minha parte”. Dessa forma, quem tem seus pais “babando” em seus filhos pode comemorar por esses se fazerem tão presentes e por seus olhos brilharem a cada vez que um netinho fala vovô ou vovó.


    Avós significam enriquecimento familiar, perpetuação da história, oportunidade de aprender a relacionar-se com mais pessoas diferentes, experiência social, ampliação de vocabulário, valorização parental, estímulo para aprendizagem. Avós aguçam os sentidos: tato, com os seus afagos e cafunés. Audição, com a sua doce voz de defesa. Visão, com a sua vivência nos levando a ver o que ninguém consegue nos mostrar. Olfato, porque seu cheirinho de cuidado corporal com seus cremes e perfumes são inesquecíveis. E paladar, porque ninguém tem o tempero tão saboroso como o deles.
   Mas em uma sociedade tão consumista e imediatista, estão descartando os mais velhos como ultrapassados. Os jovens estão perdendo muito a oportunidade de aprender com a experiência do ancião e acabam por impedir que seus filhos aprendam também e amanhã, repetirão a história, criticando e até impedindo seus pais de serem avós doces e presentes de seus filhos. Ou seja, o seu exemplo proporcionará a colheita. 
   Crianças que convivem com os avós possuem mais equilíbrio emocional, são mais compreensivas, negociam melhor e conseguem, através do vínculo e da cumplicidade estabelecida, serem reprodutoras da cultura familiar. Outro aprendizado do mundo moderno é que os vovôs e vovós estão muito mais ativos e antenados. Eles estão cuidando da saúde através do esporte e da alimentação, estão tecnológicos, procuram envolver-se com leituras de atualidades, viajam mais e se divertem muito mais também. Estão contribuindo com exemplos saudáveis, com uma variedade de interesses e modernos. Aquela imagem do vovô e da vovó de cabelinhos brancos, na cadeira de balanço e frágeis está cada vez mais distante do cotidiano. 
    É preciso estabelecer um estreitamento dos laços entre pais e avós para o bem da criançada. Enxergar a relação com a clareza de que existirão muitos benefícios e alguns desencontros de opinião. Isso é inevitável. O respeito na relação será de fundamental importância. Avós não são cuidadores, funcionários, nem seus filhos. Isso mesmo: tem filhos que querem inverter papéis e passam a mandar em seus pais ou os tratam como funcionários caso precisem deixar as crianças parte do dia com eles. Parece meio óbvio, mas preciso lembrar que o respeito aos genitores é muito importante. Você pode até pensar diferente de seus pais, avós dos seus filhos, mas nunca esqueça que se você é fruto deles, eles merecem todo o seu respeito.
    Por outro lado, os avós também precisam saber conversar com seus filhos, hoje adultos e pais, quando não concordarem com algo que assiste na criação dos netos. Os papéis precisam ficar muito bem definidos: o que é meu e o que é seu. Não podem usar da autoridade de pai para impor as regras ou agir arbitrariamente. Uma boa conversa regrada de negociações sempre funciona.
   Para finalizar, toda família precisa estar empenhada em promover uma convivência saudável, alegre e cheia de boas lembranças, afinal, momentos felizes conquistamos sempre ao lado de quem amamos.

Entrevista na Rádio Brasil Central - Tema: Educação Positiva.










Acesse o link e ouça a entrevista:




Fica instituído o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying) em todo o território nacional.




Participação no JORNAL BRASIL CENTRAL.
Pauta: Bullying 
Fica instituído o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying) em todo o território nacional.


Para assistir a entrevista, acesso o linK:

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Making off. Tema: Bullying Entrevista para o jornal TV Brasil Central.










LUTO INFANTIL: COMO TRABALHAR A PERDA DURANTE A INFÂNCIA


LUTO INFANTIL: COMO TRABALHAR A PERDA DURANTE A INFÂNCIA


Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais
Desde que nascemos, aprendemos a comemorar pela vida. Começa na maternidade onde recebemos muitos parentes emocionados pela nossa chegada. Depois, uma das primeiras canções que aprendemos é a “Parabéns para você”, porque todos adoram ver criança batendo palminhas. E, ao longo da nossa infância, somos poupados de dores e frustrações. Até que, de repente, ao nosso redor, tem um monte de adulto de olhos arregalados e apreensivos porque algo deu errado.
Assustados, sentimos um aperto sem entendimento, esperando pelo que virá. Acredito ser bem assim (se uma criança tivesse maturidade para tal narrativa) que seria descrito o despreparo que os deixamos diante de um luto. Não permitimos a nossos filhos experimentarem o sofrimento, a dor. Se compramos um animalzinho de estimação e ele morre, logo compramos outro, dando a falsa ideia de que é possível substituir, procurando fazer com que o nosso pequeno não perceba a morte. Nem permitimos tal assunto em casa. Por vezes até ligamos para os parentes e pedimos para fingirem não notarem que é outro bichinho. Colocamos até o mesmo nome.
A falsa ideia de proteção gera uma consequência desastrosa quando a morte chega para um dos membros da família. Não permitindo que a criança tenha contato com a realidade e o sofrimento, não a preparamos para elaborar as suas perdas de maneira sadia e madura. Contribuímos para que nossas crianças adoeçam emocionalmente quando as impedimos de lidar com a realidade da vida.
Precisamos aprender a utilizar o que aparece em nossa vida como oportunidades de crescimento. Se a criança perdeu um animal de estimação, permita que ela se depare com a dor, seja verdadeiro quanto à realidade de despedida sem retorno. Mostre que a morte faz parte do ciclo da vida. A acolhida generosa e amorosa dará a segurança de poder chorar a sua dor e elaborar o seu luto. Sei que nunca estamos totalmente prontos para essas despedidas, mas podemos ser preparados. 
Pensar que uma criança não é capaz de entender e lidar com o tema é uma ideia completamente errônea. É subestimar a capacidade de compreensão e percepção do conceito de morte. O desenvolvimento de qualquer conceito é construído paralelamente ao desenvolvimento cognitivo. Toda experiência da criança será determinante para a sua reação diante dos fatos. Isso só reforça que, se a família permite a criança experimentar a dor da perda de seu animal, perdas de significados, mas não tão fortes como de um parente próximo, ela irá lidar com a dor da perda de um ente querido com muita dor, mas sem traumas ou desequilíbrio. Será uma vivência dolorosa, porém sem graves consequências. Uma situação que fará parte da sua vida e que ela irá elaborar. Se há morte, há período de luto. 
Outro grande erro é querer forçar uma recuperação da tristeza rapidamente. É necessário viver o tempo de luto até que consiga ir retomando a vida cotidiana. O luto trará um comportamento que precisa ser entendido e aceito. A criança pode sentir muita raiva da morte e até raiva de quem morreu, como se a culpasse por deixá-la. Depois, pode entrar em processo de negar a morte, como se isso não tivesse ocorrido com a pessoa que tanto estimava. Ao se sentir compreendida, a criança se sentirá mais fortalecida para sair do processo de enlutamento com mais força emocional. Poderá passar por um processo de busca por entendimento, perceberá que está doendo muito até que aceitará o ocorrido. Uma aceitação que a leva à sobrevivência, um ato resiliente.
Apesar da dificuldade de aceitarmos o tema e ainda pensarmos na hipótese de termos que lidar com ele com os nossos filhos, é muito importante encararmos que o ciclo ocorre: nascemos, crescemos, morremos. Mas se isso mobiliza muito, ao ponto de não conseguir ajudar seus filhos, o ideal é buscar ajuda profissional. Fará um bem emocional enorme a todos. 

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

MINHA FILHA ME BATEU!




Fabíola Sperandio Teixeira do Couto
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais


A inspiração veio após um momento de observação de uma cena em um shopping da cidade. Estavam em uma mesa um casal jovem e uma criança de mais ou menos quatro anos de idade. A mãe, muita atenta ao celular. O pai observando as pessoas que caminhavam ou comiam em volta da mesa deles. Todos saciavam o paladar com um copo grande de um milkshake famoso.
Não deu para saber o motivo, mas de repente a mãe deu um tapinha na mão da criança. Assim que a criança recebeu o tapa, ela imediatamente devolveu não só um, mas três tapas seguidos na mão da mãe. Terminada a sequência de tapas, olhou assustada para mãe, como se esperasse uma reação negativa a sua ação. Percebendo que a mãe nem tirou os olhos do celular, olhou depressa para o pai, que gargalhava da situação. Ao ver que o pai só achava graça, a criança olhou feio para mãe, que deu de ombros para o pai, como se dissesse “não ligo” e a criança voltou ao enorme copo de doce.
Continuando a observação, percebi que aquela situação havia passado uma mensagem para aquela criança. Lamentei profundamente por esses jovens pais. Naquele momento, a criança percebeu que estava em “pé” de igualdade com os pais.
Atualmente enfrentamos uma crise de identidade na autoridade parental. Esta ausência de autoridade tem se refletido no comportamento social. Basta olhar ao nosso redor o que tem ocorrido em nossa casa (ausência de hierarquia familiar), o que aparece nos noticiários (desrespeitos, intolerância, agressões) e nas escolas (não conseguem resolver as situações próprias da faixa etária). É bem claro a todos que o exemplo vem de berço. Educação familiar é a base. 
Como a criança irá adquirir a consciência dos seus limites vivendo em um lar sem regras e autoridade? Serão jovens que caminharão para uma tendência a viver inseguros, frustrados e infelizes. Crianças sem limites apresentam sensações de angústias frequentemente. Limite é amor. Se sou amada, fico preenchida. Sendo preenchida, não terei espaço para descontentamento.
Uma criança que bate nos pais, mesmo que em uma reação impulsiva, como um ato de reflexo, no velho estilo “bateu levou”, se não há uma correção por parte dos responsáveis, uma conversa para que a leve à compreensão sobre o que é respeito e amor, crescerá completamente sem equilíbrio emocional e sem a oportunidade de obter crescimento pessoal.
Como responsáveis pela formação das nossas crianças, precisamos assumir o papel da autoridade de pais. Filhos não podem erguer a voz para seus genitores e jamais levantar a mão com menção de um “ataque” físico, que irá se concretizar em um tapa.
A cena ficou muito presente em minha cabeça durante todo o dia. Foi uma sensação de impotência que me incomodou. Como adultos podem permitir que uma criança de 4 anos tome conta da situação? Por que delegamos, até mesmo pequenas decisões como onde almoçar, aos nossos filhos?
Existe uma enorme confusão sobre educação participativa com educação transferida. O que quero dizer com isso? Pais acreditam que se o filho se envolver com as questões familiares, eles estão preparando-os para o futuro. Pergunto: uma criança de 4 anos sabe o que é melhor para a sua alimentação? Uma criança de 10 anos sabe escolher a sua escola? Lembrando que essas decisões se refletirão em toda a sua vida. 
É muito triste ver pais acomodados, deixando os seus filhos fazerem o que desejam porque é muito difícil educar. Criar realmente é fácil. Educar é o verdadeiro papel de pais responsáveis. Vamos nos responsabilizar por nossos filhos antes que seja tarde demais.