quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Levei um choque! Choque estica ruga?












Levei um choque! Choque estica ruga?


Fabíola Sperandio Teixeira do Couto 
Pedagoga- Psicopedagoga
Terapeuta de Família e Casais


De repente um choque! Não foi um choque elétrico, mas de realidade.  Francisca, é como irei nomeá-la, chega após uma visita a uma loja de departamentos aparentemente anestesiada.

Arrisco a perguntar o que houve. Pronto! Foi como um gatilho. Francisca abaixa a cabeça e diz: “Por que trabalhei tanto?  Por que estudei tanto? Minha vida passou e eu envelheci. Estou cheia de marcas no rosto. Minha face está sem saúde. O tempo voa.”

Pude perceber a tristeza daquela mulher. Abracei-a demoradamente e procurei não negar os seus sentimentos, mas extrair o lado positivo desse tempo que diz ter passado tão rápido e não o ter aproveitado. Francisca lamentava, sem deixar cair uma lágrima, porém podia ouvir seu choro interno, o quanto tinha sido dura consigo mesma.

Conversamos, demoradamente, sobre a experiência de vida adquirida. Falamos sobre alegrias e dores. Francisca insistia nas rugas do seu rosto.

Audaciosamente a convidei para ir até o espelho comigo. Ela aceitou timidamente. Custou a levantar o olhar. Quando se encarou no espelho, eu propus nomear as ruguinhas. Ela me olhou sem entender. Insisti: “Vamos, Francisca, vamos brincar de dar nomes a essas ruguinhas?!” Ela deu meio sorriso. Meio? Sim. Aquele sorriso “meia boca”.

Então, comecei a estimulá-la a se recordar das experiências e atribuí-las a cada marca de expressão. A cada nome que ela falava, eu pegava a sua mão e a levava até uma das marcas. As próximas nomeações eu nem precisei encaminhar a sua mãozinha, ela já fazia com leveza.

De repente começou a sorrir e, quanto mais sorria, mais rugas apareciam. Só que Francisca não estava sofrendo ao vê-las, pelo menos naquele momento. Parecia que já estava achando bom ter mais rugas para nomear ainda mais. Estávamos rindo e brincando com aquilo que, pouco tempo atrás, a fazia sofrer.

Percebi que a acolhida, o encarar “o problema” e a leveza recheada de humor fizeram a Francisca repensar a sua dor.

E quantas dores a gente enfrenta diariamente, não é mesmo?  Quantas vezes pensamos no que fizemos ou deixamos de fazer? Já presenciei sofrimento de criança de 6 anos lamentando a educação infantil que se está encerrando, achando que a infância passou muito rápido.


Existem várias Francisca dentro de nós. Às vezes a escondemos, outras vezes a enfrentamos. O que vale nesta vida é o que a gente aprende, com ou sem ruguinhas, né, Dona Francisca?